quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Centenas de pessoas vivem do Lixo, vivem no lixo, estão na Lixeira em Maputo – as condições dos catadores de lixo são indignas!

O Olho do Cidadão entrevistou ontem o Jurista e professor universitário Carlos Serra relativamente a problemática do Lixo em Maputo.

Olho do Cidadão: O que acha que está mal: a postura dos cidadãos moçambicanos ou do Conselho Municipal relativamente à problemática do lixo?
Carlos Serra: Infelizmente há um alheamento total dos cidadãos em relação a este tema: em primeiro lugar os munícipes têm de mudar de postura tendo em conta que todos os dias nos deparamos com cidadãos a deitarem o lixo para o chão, havendo uma certa dificuldade em manter os lugares limpos, em bom estado. Há uma necessidade atroz em maltratar os espaços públicos. Por outro lado, o Município não tem tratado do assunto da melhor forma, não conseguindo dar respostas a este problema, não havendo uma visão estratégica concreta.

Olho do Cidadão: O que acha que pode ser feito, para que haja uma mudança de comportamento?
Carlos Serra: Em primeiro lugar é necessário consciencializar os cidadãos em relação a uma mudança de comportamento através de campanhas de sensibilização, de reeducação, engajando a sociedade civil, desde os cidadãos, sector privado, instituições públicas para juntos podermos obter resultados concretos. No entanto, é importante ressalvar que tem de haver um verdadeiro investimento nesta área, tendo em conta que estas campanhas terão de ser a longo prazo, visto que mudanças de comportamento não se alcançam de um dia para o outro. Tem de haver vontade política para que estas campanhas comecem a acontecer.

Olho do Cidadão: Os munícipes pagam uma Taxa do Lixo para que o mesmo seja recolhido a tempo e horas. O que está a falhar?
Carlos Serra: Cada munícipe produz uma quantidade exorbitante de lixo: é importante salientar que a taxa de lixo paga pelos munícipes não é suficiente para pagar as despesas do lixo. Infelizmente há muito pouca aplicação das normas existentes relativamente ao assunto.
Na minha opinião, a taxa de lixo cobrada a cada munícipe devia de ser proporcional ao seu consumo de electricidade. Não se justifica que um cidadão que vive no bairro da Sommerchild pague a mesma taxa de lixo que o habitante no bairro da Mafalala, tendo em conta que os mesmos não consomem os mesmos níveis de energia e não produzem as mesmas quantidades de lixo. Costuma-se dizer que os ricos produzem muito mais lixo que os pobres, correspondendo á verdade.
Uma vez mais, para se conseguir resolver este problema, temos de envolver os bairros comunitários, sector privado, entidades públicas, comunicação social e outros parceiros, que se associem a estas campanhas para sensibilizar os munícipes. Infelizmente não se dá a devida atenção ao lixo, tanto a nível dos governantes como dos cidadãos.

Olho do Cidadão: O que acontece ao lixo após a sua recolha? É reciclado?
Carlos Serra: Todo o lixo recolhido é colocado na Vala do Hulene e o mesmo é separado por Catadores de Lixo, usando-o para consumo próprio, alimentando as suas famílias, e vendendo a empresas para reciclagem.
Centenas de pessoas vivem do Lixo, vivem no lixo, estão na Lixeira em Maputo – as condições dos catadores de lixo são indignas!
Por outro lado, há reciclagem em Maputo, aproveitando-se os resíduos e revendendo para empresas. Existe a AMOR (Associação Moçambicana de Reciclagem) que esta directamente envolvida com este processo, provendo eventos de limpeza, reciclagem do lixo.
É interessante perceber-se que o Lixo é um negócio lucrativo, dá dinheiro. O ideal é aproveitar-se o lixo ao máximo!

Para finalizar esta entrevista, Carlos Serra defende que se deve descentralizar o poder da cidade de Maputo em vários Municípios, como forma de podermos obter uma gestão mais próxima dos cidadãos, mais directa, mais próxima dos problemas dos cidadãos. A título de exemplo, o professor falou do caso da recolha de lixo na Catembe, visto que o mesmo praticamente não se faz, uma vez que é Maputo responsável por essa recolha. Conclusão: Catembe está a tornar-se praticamente numa cidade cheia de lixo, uma vez que a recolha praticamente não se faz!

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